Paulo: Apóstolo dos Gentios

01/02/2022

"Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outra pessoa pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais: circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu dos hebreus; quando à lei, fariseu." (Filipenses 3.4,5)

Como jovem judeu, ele recebera educação ministrada apenas aos judeus de futuro e foi educado aos pés do grande mestre judeu, Gamiliel. Poucos podiam se orgulhar de ter mais instrução do que Paulo no que dizia respeito à educação religiosa judaica e poucos de aproveitarem tanto quanto ele, da educação que recebeuEra ele também cidadão de Tarso, a principal cidade da Cilícia, "cidade não insignificante". 

"Respondeu-lhe Paulo: Eu sou judeu, natural de Tarso, cidade não insignificante da Cilícia; e rogo-te que me permitas falar ao povo." (Atos 21.39).

Era também cidadão Romano livre e não tinha dúvidas em usar os privilégios de sua cidadania romana quando estes privilégios podiam ajudá-lo em sua missão por Cristo.

"Paulo, porém, lhes replicou: Sem ter havido processo formal contra nós, nos açoitaram publicamente e nos recolheram ao cárcere, sendo nós cidadãos romanos; querem agora, às ocultas, lançar-nos fora? Não será assim; pelo contrário, venham eles e, pessoalmente, nos ponham em liberdade." (Atos 16.37)

O judaísmo foi seu ambiente religioso anterior a sua conversão. Tarso foi sua grande universidade e sua atmosfera intelectual, o palco dos primeiros anos de sua vida, e o Império romano foi o espaço político em que viveu e agiu. Este ambiente político não parecia ser tão favorável a alguém para a proclamação do evangelho. César Augusto provocou a decadência da República, exceto para a política, quando estabeleceu em 27 a.C. uma diarquia (governo em que o poder é exercido por dois soberanos) em que dividiu nominalmente o controle do estado com o senado. Infelizmente, seus sucessores não tiveram a habilidade nem a moral de Augusto e governaram mal. Calígula (37-41) esteve louco durante parte de seu governo; Nero (54-68), sob quem Paulo foi martirizado e a igreja enfrentou sua primeira perseguição, era um homem cruel e sanguinário que não titubeou em matar membros de sua própria família. Entretanto, Cláudio (41-54) foi um excelente administrador e o Império conseguiu se estabilizar em seu governo. Foi em sua administração que Paulo fez a maioria de suas viagens missionárias. 

A situação social e moral era mais assustadora do que a política. A pilhagem do Império criou uma classe alta, rica de novos aristocratas que tinham escravos e dinheiro para satisfazer seus muitos desejos legítimos e ilegítimos. Essa classe desdenhava de certo modo a nova religião e viam seu apelo às classes pobres como uma ameaça à sua posição elevada na sociedade. Assim mesmo, algumas dessas classes se converteram com a pregação do Evangelho feita por Paulo na prisão em Roma. 

"... de maneira que as minhas cadeias, em Cristo, se tornaram conhecidas de toda a guarda pretoriana e de todos os demais." (Filipenses 1.13)


Paulo enfrentou também a rivalidade de outros sistemas de religião. Os romanos eram de certo modo ecléticos em sua vida religiosa e se dispunham a tolerar toda religião desde que esta não proibisse seus seguidores de participar no culto do Estado, que misturava o culto ao imperador com o velho culto do estado publicano e exigia a obediência de todos os povos do Império exceto aos judeus, que por lei eram isentos destes rituais. Aos cristãos não se concedeu tal privilégio e eles tiveram que enfrentar o problema da oposição do Estado. As religiões de mistério subjetivistas de Mitra, Cibele e Ísis pediam a associação de muitos outros no Império. O judaísmo, de quem o cristianismo foi distinto como seita separada, enfrentou uma oposição cada vez maior. Os intelectuais romanos aceitavam os sistemas filosóficos, como o Estoicismo, o Epicurismo e o Neo-pitagorismo, que sugeriam a contemplação filosófica como o caminho da salvação. O estoicismo, com sua interpretação panteística de Deus, sua concepção de leis éticas naturais descobríveis pela razão e sua doutrina da paternidade de Deus e fraternidade do homem, parecia dar um fundamento filosófico para o Império Romano. Alguns imperadores, como Marco Aurélio (161-180), aceitaram suas formulações éticas. Paulo teve que enfrentar este confuso cenário religioso com o simples Evangelho redentor da morte de Cristo. A arqueologia nos ajuda a datar postos-chaves na vida e obra de Paulo o qual esteve em Corinto por 18 meses quando Gálio tornou-se procônsul.

"Quando, porém, Gálio era procônsul da Acaia, levantaram-se os judeus, concordemente, contra Paulo e o levaram ao tribunal, dizendo: Este persuade os homens a adorar a Deus por modo contrário à lei." (Atos 18.12,13)

Uma inscrição em pedra, descoberta em Delfos, menciona que Gálio começou seu trabalho na Ásia no vigésimo sexto ano de Cláudio, que foi de 51 a 52 d.C. Assim, a visita de Paulo teria começado 18 meses antes, em 50 d.C. Outras datas em sua vida podem ser calculadas a partir desta com relativa precisão. A conversão de Paulo foi também um evento histórico objetivo. Ele falou dela como tal em 1Coríntios 9.1 e 15.8 e em Gálatas 1.11-18. Ela aconteceu no seu encontro com Cristo na entrada para Damasco (Atos 9.22-26). Esta experiência foi vital para seu trabalho missionário, seu ensino, escritos e teologia. A índole de Paulo era tão múltipla que é preciso considerar a sua obra sob diferentes aspectos. Cada um dos tópicos seguintes destacará a grandiosidade da tarefa que Deus lhe deu e a aplicação que devotou à realização desta tarefa.

"Gostaria, pois, que soubésseis quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicences e por quantos não me viram face a face". (Colossenses 2.1)

O PROPAGADOR DO EVANGELHO

Paulo era ao mesmo tempo sábio e dedicado missionário. Sua vida ilustra o uso de princípios que têm servido bem a igreja no cumprimento da grande comissão. Uma consulta aos mapas de suas viagens indica o avanço do Evangelho através de sua pregação ao longo do semicírculo que vai de Antioquia à Roma. Paulo adotou como princípio básico a expansão do Evangelho para o Ocidente e é encantador o fato de ter alcançado seu objetivo, Paulo pensava também em termos de áreas que poderiam ser alcançadas a partir de centros estratégicos. Ele sempre começava seu trabalho numa nova área na cidade mais estrategicamente localizada e usava os convertidos para levar a mensagem às cidades e regiões adjacentes. É por causa desta prática que ele provavelmente não tenha visitado Colossos, uma vez que a forte igreja desta cidade tinha sido fundada por aqueles que ele mesmo enviou de Éfeso: 

Ele iniciava seu trabalho nos centros romanos estratégicos indo primeiro às sinagogas, onde pregava sua mensagem enquanto fosse bem recebido. Quando surgia a oposição, ele partia para uma proclamação direta do Evangelho aos gentios em qualquer lugar que julgasse adequado. Seu princípio era pregar aos gentios depois de ter pregado aos judeus. Pelo menos é o que se depreende do estudo da história das viagens segundo Atos: 

"Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego;" (Romanos 1.16)


Ele não queria ser um ônus para as igrejas nascentes que dirigia, as quais deviam assumir a responsabilidade de se sustentarem enquanto pregava em uma nova área. Ele trabalhou em sua profissão de construtor de tendas enquanto pregava ao povo de Corinto. Ele não fez disto uma regra para os outros, mas sentiu que era necessário para o seu ministério. A igreja deveria também se auto sustentar:

"Porque, vos recordais, irmãos, do nosso labor e fadiga; e de como, noite e dia labutando para não vivermos à custa de nenhum de vós, vos proclamando o evangelho de Deus." (1 Tessalonicenses 2.9)


Sua dependência da orientação do Espírito Santo em sua obra se evidencia claramente tanto nos Atos como em suas epístolas. Ele não desejava ir a um lugar sem estar absolutamente certo de que aquele era o campo que Deus tinha para o seu trabalho. Procurava alcançar regiões não alcançadas por outros, a fim de que fosse sempre um prisioneiro do Evangelho. Este espírito de pioneirismo foi muito produtivo, resultando na chegada do Evangelho de Antioquia à Roma e, possivelmente, à Espanha, no curto tempo de sua vida.

Estes princípios seguidos pelo apóstolo serviram-lhe no desenvolvimento das igrejas como centros organizados para continuação da pregação do evangelho. Ele não as deixou sem ajuda constante, pois usava revisitar as igreja que fundava, a fim de encorajá-las e fortalecê-las. Não é de admirar o rápido crescimento do cristianismo sob esta liderança sadia e inspirada. A igreja também deveria ser auto propagadora.


Deve-se atentar para o fato de que todas estas cartas surgiram de uma crise histórica definida em alguma das amadas igrejas de Paulo. A grandiosidade destes "tópicos do momento" reside no fato de que os princípios que Paulo propôs para resolver os problemas das igrejas do primeiro século ainda são relevantes para a igreja nos tempos modernos. Os seres humanos enfrentam problemas semelhantes e semelhantes princípios são úteis embora o ambiente temporal e espacial sejam diferentes. As epístolas são quase sempre de valor para qualquer igreja na solução de seus problemas. Paulo sempre equilibrou fórmulas teológicas com aplicação prática.

AS PUBLICAÇÕES DE PAULO

Paulo adotava a prática de se manter em contato com a situação local em cada igreja através de visitadores dessas igrejas, ou através de relatos de agentes que enviava a visitar as igrejas. Quando a situação local parecia exigir, ele escrevia cartas sob a inspiração do Espírito Santo para tratar dos problemas particulares. Ele escreveu duas vezes à igreja tessalonicense para esclarecer uma má interpretação da doutrina da segunda vinda de Cristo. A igreja coríntia enfrentava o problema de uma igreja situada numa grande cidade pagã e Paulo escreveu uma primeira carta para resolver estes problemas; problemas referentes à sabedoria humana e espiritual, próprios de uma igreja localizada numa cidade de cultura grega. O problema da moralidade num ambiente pagão, os processos entre cristãos nas cortes pagãs, problemas matrimoniais e o problema do relacionamento social com os idólatras pagãos foram alguns dos assuntos que tratou em sua correspondência. Sua segunda epístola aos Coríntios decorreu da necessidade de afirmar seu apostolado, a fim de que sua autoridade afirmada na primeira carta fosse confirmada. A carta aos Gálatas se fez necessária por causa do problema da relação da lei judaica com o cristianismo, para que a fé, e não a lei, fosse vista como o princípio atuante do cristianismo. A carta aos romanos é uma exposição e explicação sistemática de seu evangelho. As quatro epístolas escritas durante sua prisão em Roma surgiram devido aos problemas especiais nas igrejas de Éfeso, Colossos e Filipos. A epístola pessoal a Filemom trata do problema do senhor e do escravo que se tornam cristãos. As três epístolas pastorais a Timóteo e a Tito tratam dos problemas próprios de um jovem pastor.

"Todos quantos, pois, são das obras da lei estão debaixo de maldição; porque está escrito: maldito todo aquele que não permanece em todas as coisas escritas no Livro da lei, para praticá-las. E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé. Ora, a lei não procede de fé, mas: Aquele que observar os seus preceitos por eles viverá. Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro),..." (Gálatas 3.10-13)

OS PRINCÍPIOS DA TEOLOGIA DE PAULO

Nenhuma discussão histórica sobre Paulo pode se permitir ignorar as doutrinas básicas desenvolvidas em suas cartas, particularmente na carta à igreja romana. Cristo não deixou nenhum corpo de doutrinas definido. Esta formulação coube ao trabalho de Paulo, conduzido pelo Espírito Santo. Este corpo de doutrinas não estava, entretanto, em contraste com os ensinos de Cristo mas, antes, partia dos ensinos e morte de Cristo. A educação de Paulo no lar, na sinagoga e sob Gamaliel; sua observação da natureza; sua experiência de conversão; sua mente criativa e, acima de tudo, a revelação divina, foram importantes no desenvolvimento de sua teologia. A essência do evangelho paulino pode ser sintetizada facilmente. Paulo entendia que a felicidade e a utilidade nesta vida e na futura dependem da conquista do beneplácito de Deus. O favor de Deus pode ser assegurado ao homem que faz a vontade de Deus. Paulo e seus compatriotas judeus criam que a observância da lei de Moisés, que era uma expressão de santidade de Deus, garantiria uma vida feliz e útil. Paulo, porém, descobriu a tristeza de que as obras da lei somente resultavam no conhecimento do pecado e deixavam o homem sem esperança de executar a vontade de Deus como expressa nesta lei relatada em Romanos 7. A experiência na estrada de Damasco revelou a Paulo que não é a lei, mas a Cruz de Cristo o ponto de partida para a vida espiritual. Cristo, que guardara perfeitamente a lei judaica, como homem perfeito de Deus, ofereceu-se na cruz em lugar do homem pecador e assumiu o fardo do pecado humano:

Os homens precisam aceitar pela fé a obra que Cristo já fez por eles. O sistema ético de Paulo desenvolve-se a partir desta união pessoal do crente com Cristo pela fé. Esta relação vertical deve ser completada com uma relação horizontal na qual o crente se une aos irmãos pelo amor cristão expresso numa vida moral:

"Ora, o seu mandamento é este: que creiamos em o nome de seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, segundo o mandamento que nos ordenou." (1 João 3.23)


Nem o legalismo do judaísmo, nem o racionalismo do estoicismo, mas o amor cristão deve ser a fonte da conduta cristã. A união mística do crente com o Senhor deve ser o fundamento do amor. Esta vida de amor envolve separação da corrupção pessoal que vem da adoração de ídolos, da impureza sexual ou da embriaguez - os grandes pecados do paganismo. O que se deve buscar, então, positivamente, é o serviço do amor para com os outros e a firmeza quanto à integridade pessoal. Um sistema de ética assim não significava repúdio da lei moral judaica mas, antes, representava o cumprimento do elevado nível do amor na família, na comunidade e na sociedade em geral. Os padrões éticos elevados os cristãos impressionavam seus vizinhos pagãos com a grandeza da fé cristã. A própria vida de Paulo de serviço dedicado era uma indicação tanto a judeus quanto a gentios do que Deus faria na formação de uma personalidade cristã dedicada ao serviço para glória de Deus e para o bem do homem. A filosofia paulina da história está intimamente ligada às suas posições éticas e teológicas. Ele rejeitava a teoria cíclica da história, que caracterizava o mundo antigo, e a teoria moderna de processo evolutivo indefinido, adotando uma interpretação sobrenatural cataclísmica da história que se funda no fracasso do homem não regenerado e no poder de Deus para executar seu plano divino. Esta doutrina não se limita a nações mas engloba a raça humana. Segundo ela, o processo pode vir apenas através do conflito espiritual em que ao homem é dado força através da graça de Deus. Derradeiramente, Deus será o vencedor sobre todas as forças do mal que fora provisoriamente derrotadas na Cruz do Calvário por Cristo:

"Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, a glória eternamente. Amém." (Romanos 11.36)


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